domingo, 12 de outubro de 2014

POESIA MATEMÁTICA

POESIA MATEMÁTICA
Millôr  Fernandes
Ás folhas tantas
Do livro matemático
Um quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma incógnita

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base,
Uma figura ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo octogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela
Até que se encontraram
No infinito.
“Quem és tu?”, indagou ele
Com ânsia radical.

“Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa.”

E de falarem descobriram quem eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs-
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão Retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram se casar
Construir um lar.
Mais que um lar,
Uma perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E se casaram e tiveram uma secante e três cones.

Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a fração
 Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
Sociedade. 

(Extraído do livro Tudo é Matemática – 8ª Série – p.34 do Manual Pedagógico) 

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